novembro 09, 2006

para contemplar

outra forma de olhar as coisas, uma forma de contemplar e pensar sobre a situação feminina no mundo através do tarô...

-mas a senhora (a papisa) não preferiria ser a primeira?
seguiu-se uma longa pausa.
"você deve ler da esquerda para a direita, com certeza", disse ela finalmente, com os olhos fitos num ponto cerca de trinta centímetros acima da minha cabeça e com vários séculos de profundidade.
-mas, Senhora, seja qual for a direção em que se lê, ao contar, o número um sempre vem primeiro!
"isso é verdade, minha querida", assentiu ela placidamente, "e o número dois vem depois. A matemática foi difícil para mim, também, a princípio, mas a gente logo se acostuma a ela"
-mas sem dúvida é melhor ser primeira?
" ah meu deus!" suspirou ela. "quanto trabalho vocês, modernos, arranjam para si mesmos com toda essa avaliação! Não admira que tenham inventado computadores a fim de trabalharem para vocês."
-quer dizer que a senhora é contra a avaliação? deve achar, então que a gente ser primeira ou segunda dá no mesmo?
"oh, não. É claro que não dá no mesmo. É diferente. Muito diferente. Aí bate o ponto, entende? Nem melhor, nem pior - apenas diferente. cada lugar tem o seu sabor - como as especiarias - ou os perfumes. Gosto de pensar que somos flores - O Mago (que é a primeira carta) uma virga-áurea e eu, uma rosa."
-sim, percebo. Mas há duas coisas que ainda me intrigam. Dizem que Eva foi uma idéia tardia do Criador - a costela de Adão, a senhora sabe. Isso é verdade?
"Tolice! a costela de Adão foi completada antes que ele o fosse. O fato é que Adão só deu por ela mais tarde. Foi isso que aconteceu."
"Tenho aqui uma gravura (...) Por aqui se vê perfeitamente que Eva não é a costela de ninguém! É, antes, uma deusa e, como todos esses seres imortais, nasce adulta - um nascimento milagroso. Atrás dela, ergue-se a sua gloriosa serpente. Não são lindas as duas? Mas Adão está dormindo; não nem sabe que ela existe. Hoje ele começa a despertar para a realidade dela, mas ainda não sabe muita coisa a seu respeito. Na verdade, nem mesmo Eva está plenamente convencida de própria realidade. Se olhar para o rosto dela, você a verá ainda absorta num sonho, colocada, como a Miranda de Shakespeare, no limiar de um Corajoso Mundo Novo."
Salie Nichols - Jung e o tarô: uma jornada arquetípica

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